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terça-feira, 10 de julho de 2012

ProAC Primeiras Obras


Carta ao Secretário de
Estado da Cultura de São Paulo - ProAC

Carta ao Secretário de Estado da Cultura de São Paulo / Ano 2012
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A DANÇA / Programa de Ação Cultural (ProAC)
Edital nº 6 - Primeiras obras de produção de espetáculos e temporada de dança

Os artistas e profissionais da dança reunidos no 9º seminário “A Dança Se Move” vêm reiterar algumas colocações feitas previamente e, sobretudo, manifestar nossos questionamentos, discordâncias e sugestões ao que diz respeito ao Programa de Ação Cultural - ProAC – Edital nº 6 “Primeiras obras de produção de espetáculo e temporada de dança no Estado de São Paulo”.

Assim sendo, queremos com esta carta reivindicar alterações referentes a:

- Revisão da definição dos parâmetros de enquadramento para participação no Edital ProAC nº6, considerando as discussões e reivindicações da classe, tal como será desenvolvida nesta carta;

- Revisão da restrição do edital voltado apenas a novas produções, para que possa contemplar além destas, também a circulação de trabalhos já criados – tornando o edital mais coerente à realidade de artistas considerados em início de trajetória.

Queremos relembrar que uma das colocações feitas na carta anterior referia-se à solicitação de um edital específico para cada segmento das artes cênicas (dança, teatro e circo), que eram até então contemplados conjuntamente no edital “Primeira Obra de Artes Cênicas”. Consideramos como extremamente positiva a separação dos três segmentos, podendo assim atender a um maior número de proposições em suas específicas linguagens.

Por outro lado, sentimo-nos bastante insatisfeitos ao deparar-nos com as definições e hipóteses de enquadramento descritas no Edital nº 6. A saber:

II. A) Artista ou grupo de artistas iniciantes são os que se enquadrem em pelo menos uma das hipóteses abaixo:

1. Qualquer forma de experiência em Dança – atuação, coreografia, direção, técnica, produção e administração - há no máximo 2 (dois) anos;

2. Nunca ter recebido remuneração por qualquer forma de experiência em Dança – atuação, coreografia, direção, técnica, produção e administração;

3. Nunca ter se apresentado para uma plateia.

Gostaríamos aqui de declarar nossa discordância com tais definições e solicitamos uma abertura para uma discussão e revisão do edital. O segmento formado pelos artistas em início de trajetória é um grupo grande e heterogêneo, composto por diferenças e similitudes, mas que compartilham necessidades ao que diz respeito às  exigências e dificuldades de se inserir no mercado artístico paulista. Este segmento precisa de editais que contemplem as suas especificidades.

Um agrupamento de artistas da dança considerados em início de trajetória profissional ligados ao Movimento A Dança se Move têm realizado encontros sistemáticos e elaboraram um novo programa de bolsas que foi entregue à Prefeitura de São Paulo. Neste programa, a própria categoria, discutindo e entendo as singularidades que a compõem, estabeleceu-se como:

“ Artistas e pesquisadores que se julguem em fase inicial do desenvolvimento de sua trajetória, tais como: criadores, grupos ou coletivos em suas primeiras produções autorais; alunos egressos de universidades, cursos técnicos e/ou cursos livres; envolvidos no contexto artístico da dança que estejam interessados em desenvolver pesquisas que contribuam para este campo de conhecimento.”

A formação em dança não possui limites específicos e objetivos que possam se estabelecer como “regra” para toda categoria. Tal formação envolve um trajetória plástica e móvel, que difere de pessoa para pessoa, de ambiente para ambiente, de momento para momento. Isto é, não se faz de um modo único; ela reflete uma construção em variados campos de pesquisa, que podem acontecer a partir de diferentes necessidades e com durações distintas. Quando com o ítem 1 o edital busca determinar o que seria um artista em início de trajetória através da prerrogativa de um tempo máximo de experiência de 2 anos, ele se mostra completamente desconectado e desinformado dos processos de formação em dança. Observamos atualmente, por exemplo, um grande crescimento de cursos de graduação e pós-graduação – sem que isso seja um fator decisivo para conferir grau de profissionalização a um artista da dança. Podemos também considerar que as diferentes funções que um artista desta área pode ocupar (dançarino, coreógrafo, produtor, pesquisador, educador, curador, etc) requerem também diferentes formações. Pensar em tempo máximo de experiência em dança não é um bom recurso para definir este segmento da área.

Especificamente quanto à questão do item 2, que exclui aqueles que já receberam alguma remuneração, é fundamental ressaltar que para estudantes, artistas principiantes e/ou em fase inicial de desenvolvimento da sua pesquisa, prestar serviços em algumas funções acima citadas é uma das maneiras de garantir a continuidade de sua formação profissional. Além disso, o termo “remuneração” é bastante amplo para ser um fator excludente. Uma irrisória ajuda de custo por exemplo, já inviabiliza a participação no edital.

Quanto à condição de nunca ter se apresentado para uma plateia (referente ao item 3), ela também nos parece por demais desconectada do contexto de formação em dança. Qualquer estudante, por mais iniciante que seja, tem oportunidades para dançar para uma plateia. Uma criança que começa a fazer aulas de dança facilmente se apresenta publicamente. Não haveria problema do edital abranger pessoas que nunca dançaram para um público, a questão é proibir a participação de um contingente enorme de pessoas interessadas em criar e produzir dança. Por mais que o objetivo do edital fosse contemplar um segmento pouco incentivado - artistas em fase inicial -, o modo como foram estabelecidos os critérios de participação se constituiram na lógica da exclusão.

Um artista em início de trajetória não pode ser definido em idade, nem em tempo de prática, nem em quantidade de experiências cênicas, nem em quantidade de remunerações já recebidas – pois todos estes itens podem ter variações infinitas na história de cada um. A formação de um artista envolve pesquisa, aprofundamento de questões e inquietações, sejam elas estéticas, técnicas, metodológicas e/ou conceituais. Todas estas são processuais e de ordem qualitativa – nunca quantitativa.

Como exposto anteriormente, a diversidade constitui este grupo que é formado por estudantes, profissionais que trabalharam em companhias de dança e que agora investem na sua criação pessoal, e criadores-intérpretes que, mesmo já tendo realizado alguns poucos trabalhos, ainda estão em fase inicial de desenvolvimento da sua linguagem. Este grupo como um todo não está contemplado nos editais que se apresentam atualmente. Por um lado, são inexperientes demais para concorrer com editais que visam a realização de produções maiores, tais como o Edital ProAC nº 4 Produção de espetáculo inédito e temporada de dança, e o Edital nº 5 Difusão e Circulação de espetáculo de dança, por outro, são muito experientes para este Edital ProAC nº 6. Há um grande contingente de artistas que não se enquadram aos formatos de incentivo atual, com trajetórias que ficam interrompidas no meio de seu percurso. Se não houver uma alteração neste cenário, torna-se inviável a estes artistas atingir o aprofundamento e a maturidade profissional para consolidação de suas pesquisas. Aqueles que iniciam sua carreira estão fadados a não conseguir dar continuidade à mesma.

Além do mais, se há um artista numa situação tão iniciante como está proposto pelo Edital ProAC n° 6, por que razão se espera dele uma produção e não se pensa em editais vinculados à formação? Será que antes de produzir não é necessário estudar, pesquisar? Editais de residência e de pesquisa não são mais adequados para impulsionar artistas tão iniciantes?

Esperamos que as autoridades e profissionais envolvidos com a elaboração/ discussão/habilitação deste edital leve em consideração nossas demandas e propostas. Seria mais condizente com a realidade da dança paulista e dos meios de fomento e difusão, que o edital reveja a sua definição de habilitados, considerando as discussões e reivindicações da classe. A definição de artistas em início de trajetória acima apresentada se mostra uma alternativa integrada aos desejos e necessidades de estudantes e profissionais da dança.

Outro aspecto que sugerimos ser revisto, é que o presente edital ProAC nº6 possa contemplar a produção e/ou a circulação. Isso significa que ficará a cargo do artista escolher se pretende se concentrar na criação e apenas estreá-la - sem se preocupar com a circulação; se quer somente circular um trabalho que já foi concebido anteriormente; ou ainda, se prefere fazer ambos, produzir e circular com a sua criação. A lógica da produção prioritariamente quantitativa não deve prevalecer atropelando o que a situação e a natureza do próprio projeto demandam.

Finalmente, sugerimos que se crie um edital específico que seja voltado para residência e pesquisa, e destinado a artistas que queiram aprimorar seus estudos com criadores paulistas mais experientes, vivenciando treinamentos, metodologias e estratégias construídas e orientadas por artistas com trajetória consolidada.

Assinam este documento:
- 9º Seminário A Dança se Move
- Cooperativa Paulista de Dança
- Movimento Mobilização Dança

Presentes: Valeska Figueiredo, Suzana Bayona, Alex Merino, Carlos Freitas, Marina Hohne, João Carlos Ferreira da Silva, José Maria C. Ferreira, Angela Nolf, Fernando Lee, Larissa Miwako, Gabriela Neves, Vera Sala, Lívia Imperio, Sandro Borelli, Isabela Pessotti, Fernanda Perniciotti, Ana Catarina Vieira, Ellen Gonsauer, Natalia Fernandes, Shayanny de Sá, Juliana do Nascimento, Djalma Moura, Renato Cruz, Natália Mendonça, Marcos Moraes e Fábio Farias.

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